O envelhecimento da população brasileira e, em particular, da paulista tem tornado cada vez mais evidente um tipo de demanda crescente: a do cuidado de pessoas idosas.
Levando em conta este quadro, em 2021, a Fundação Seade decidiu realizar a Pesquisa de Cuidados no Domicílio, cujos resultados mostram que este é o maior grupo com necessidade de cuidados: 3 milhões de famílias pesquisadas (41%) informaram ter idosos com necessidades de algum tipo de cuidado no Estado de São Paulo, o que corresponde a 3,8 milhões de pessoas.
A proposta desse estudo é apresentar informações, para o Estado de São Paulo, sobre os tipos de cuidados necessários às pessoas com 60 anos e mais e como suas famílias se organizam para atendê-las.
Entre os idosos com necessidades, 43% tinham 65 a 74 anos e 58% faziam tratamento contínuo
Do total de pessoas com 60 anos e mais residentes nos domicílios, que necessitavam de cuidados, 24% estavam na faixa de 60 a 64 anos (914 mil); 43% na de 65 a 74 anos (1,6 milhão) e 33% na de 75 anos e mais (1,3 milhão de pessoas).
Gráfico 1 – Distribuição da população de 60 anos e mais, por grupos de idade
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
É certo que a longevidade da população está associada a fatores como ampliação do acesso a serviços de saúde preventiva e curativa, prática de atividades físicas, alimentação adequada, acesso a informações que auxiliam na qualidade de vida, entre outros. Mesmo considerando esses fatores, a demanda por cuidados se amplia conforme a idade avança e, dessa forma, a primeira faixa do grupo analisado – 60 a 64 anos de idade – apresenta maior autonomia e menor necessidade de cuidados do que os grupos etários subsequentes.
Entre as pessoas de 60 anos e mais, 7% (250 mil pessoas) apresentavam algum tipo de deficiência física, mental ou intelectual, 20% (760 mil) afirmaram ter alguma enfermidade ou sequela de acidente ou de Covid-19 e 63% (2,4 milhões) tinham doenças crônicas, como diabetes, pressão alta, problemas pulmonares e obesidade mórbida, percentuais que aumentam conforme o subgrupo etário.
Gráfico 2 – Distribuição da população de 60 anos e mais, por grupos de idade, segundo condição de saúde
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
(1) A amostra não comporta a desagregação para pessoas com deficiência.
Dessas pessoas, 56% (2,1 milhões) faziam algum tipo de tratamento contínuo de saúde, reabilitação física, mental ou fisioterapia (49% entre aquelas com 60 a 64 anos, 55% entre as com 65 a 74 anos e 62% com 75 anos e mais). Para obter esses serviços, 34% dos idosos usavam serviços pagos e 66%, gratuitos.
Gráfico 3 – Distribuição da população de 60 anos e mais, por grupos de idade, segundo condição de tratamento contínuo
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
Necessidade de ajuda é maior para 75 anos e mais
Muitas doenças no envelhecimento não chegam a limitar a autonomia do indivíduo para as atividades cotidianas, enquanto outras situações a comprometem em algum nível, gerando a necessidade de cuidados. O apoio aos idosos demanda tempo e dedicação das famílias, ou de alguém por elas designado, o que pode ser circunscrito a determinadas tarefas.
Cerca de 16% (146 mil) das pessoas de 60 a 64 anos e 57% (720 mil) daquelas com 75 anos e mais precisavam de ajuda em tarefas rotineiras, tais como lavar roupas, arrumar a casa, fazer limpeza leve ou preparar refeições simples, tomar remédio, fazer compras de itens básicos, controlar dinheiro, ir a locais de tratamentos ou fisioterapias.
Gráfico 4 – Proporção da população de 60 anos e mais que necessita de ajuda em atividades instrumentais da vida diária (1), por grupos de idade
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
(1) Lavar roupas, arrumar a casa, fazer limpeza leve ou preparar refeições simples, tomar remédio, fazer compras de itens básicos, controlar dinheiro, ir a locais de tratamentos ou fisioterapias.
A necessidade de ajuda também pode ser contínua e intensiva em atividades cotidianas do autocuidado. Nesse sentido, o arranjo dentro das famílias implica mais tempo e gastos financeiros para esses cuidados, que serão maiores quanto mais elevada a idade, conforme aumentam as restrições de autonomia individual.
Nesse aspecto, 7% (95 mil) das pessoas com 60 a 74 anos e 19% (237 mil) daquelas com 75 anos e mais precisavam de ajuda em atividades básicas, como tomar banho, usar o banheiro, se alimentar, se vestir ou pentear-se, levantar-se da cadeira, cama ou caminhar entre os cômodos.
O nível de dependência pode ser sintetizado a partir da capacidade do idoso em realizar as atividades básicas da vida diária.1 Segundo essa classificação, o indivíduo independente realiza todas as atividades básicas.
O semidependente não faz pelo menos uma das atividades, como banhar-se e/ou vestir-se e/ou usar o banheiro e o dependente incompleto apresenta comprometimento de uma das funções vegetativas simples, como a de transferência de um cômodo a outro e, por decorrência, depende de ajuda para banhar-se, vestir-se e usar o banheiro. A soma destas duas condições, que demandam algum tipo de apoio correspondia a 15% (191 mil) das pessoas de 75 anos e mais e 7% (175 mil) daquelas de 60 a 74 anos.
O dependente completo apresenta comprometimento de todas as funções vegetativas simples, incluindo a capacidade de alimentar-se sozinho. Nessa condição encontravam-se 23% das pessoas (288 mil) a partir de 75 anos de idade com doença crônica e 6% (150 mil) daquelas com 60 a 74 anos.
Gráfico 5 – Distribuição da população de 60 anos e mais com enfermidades, por grupos de idade, segundo índice de funcionalidade global
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
(1) Inclui dependência incompleta, uma vez que a amostra não comporta a desagregação para essa categoria.
Maior parte dos cuidadores é da própria família
Muitos idosos não podem contar com alguém designado exclusivamente para seus cuidados. Em parte, isso acontece pelo tamanho reduzido das famílias (três pessoas, em média), sendo que cerca de 16% dos idosos moram sozinhos e 29% apenas com o cônjuge. Além disso, os custos decorrentes da contratação de cuidadores restringem essa opção. Segundo a pesquisa, apenas 13% dos idosos tinham cuidador, parcela que aumenta para 24% entre os mais velhos.
Gráfico 6 – Distribuição das famílias com pessoas de 60 anos e mais, por tipo de família
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
Esses fatores não excluem possíveis arranjos em que a família dedica parte do seu tempo para tais cuidados. Entre os idosos de 60 anos e mais, 80% não tinham um cuidador específico, ficando com outras pessoas no domicílio. Por outro lado, 7% dos idosos ficavam sozinhos.
Entre as pessoas de 60 anos e mais que tinham cuidador, a maior parte dos que exerciam essa tarefa eram os/as próprios filhos/as ou cônjuge.
Vale destacar que, após o início da pandemia, 28% das famílias indicaram que haviam perdido apoio de parente ou familiar, o que tende a sobrecarregar os familiares que atuam como principais cuidadores.
Gráfico 7 – Distribuição da população de 60 anos e mais que precisa de cuidados, por grupos de idade, segundo situação no domicílio
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
35% das pessoas de 60 anos e mais tinham rendimento total de até dois salários mínimos
Em média, apenas uma pessoa trabalhava de forma remunerada nas famílias pesquisadas, sendo que pouco mais da metade dessas famílias declararam ter uma renda domiciliar média entre R$ 2.200 e R$ 5.500 e 40% recebiam até dois salários mínimos (vigente em 2021, de R$ 1.100). Já para as famílias com pessoas de 60 anos e mais, a parcela que recebia até dois salários mínimos era de 35%, enquanto 54% recebiam entre R$ 2.200 e R$ 5.500.
Após o início da pandemia, 23% das famílias indicaram que pelo menos um membro diminuiu o número de horas trabalhadas ou perdeu o trabalho entre as pessoas de 60 anos e mais, e para 15% delas ocorreu diminuição da quantidade de alimentos disponível para as pessoas com 60 anos e mais.
Gráfico 8 – Distribuição de todas as famílias e daquelas com pessoas de 60 anos e mais, por renda do domicílio (1)
Estado de São Paulo, 2021, em %
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Cuidados no Domicílio.
(1) Renda total do domicílio no mês anterior ao da entrevista. Em reais de 2021.
Nota
1. Índice de funcionalidade global; Katz et al. Avaliação multidimensional do idoso / SAS. Curitiba: Sesa, 2018.